O chefão da maior milícia do RJ, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, chegou a participar pessoalmente de alguns dos 15 encontros que a deputada estadual Lucinha e sua assessora tiveram com seu comparsa, Dom ao longo de 2021, segundo informações da Justiça.
Dom ocupa posição de destaque e alta hierarquia na quadrilha, sendo um dos principais responsáveis pela administração dos recursos financeiros.
O MP destacou cinco episódios que demonstram a interferência da Parlamentar e de sua assessora ora para favorecer os interesses da milícia ora para protegê-los das iniciativas das autoridades policiais de combate ao grupo.
Os episódios estão a seguir elencados:
a) Fornecimento, pelas Requeridas, de informações ao grupo
criminoso relacionas à data que o Prefeito da cidade do Rio de
Janeiro estaria presente nos bairros dominados pelos
milicianos;
b) Defesa, pela Parlamentar, da denominada “brecha da P5” no
transporte público alternativo realizados pelas vans na cidade
do Rio de Janeiro, a fim de tutelar os interesses econômicos da
organização criminosa;
c)
Informações passadas por Dom à deputada e à sua assessora, solicitando interferências e
providências junto às autoridades policiais para que fosse
realizada operação policial em desfavor do grupo miliciano rival – “milícia do Tandera;
d) Participação das Requeridas na soltura de milicianos do grupo de Zinho presos no dia 06/11/2021;
De acordo com o MP, o primeiro episódio data de 06/07/2021. Nesse dia, a partir da quebra do sigilo telemático de Dom, constatou-se a
existência de diálogo travado entre o miliciano e a assessora no qual Dom indagou a investigada a respeito da data em que o Prefeito Eduardo Paes estaria presente na Zona Oeste, informação tal efetivamente prestada pela assessora. Tal informação permitiu ao miliciano que pudesse “se programar” e “retirar das ruas sua tropa armada”, impedindo, assim, a atuação do Poder Público na identificação e prisão dos integrantes da malta,
Já o segundo episódio data de 09/09/2021 a 14/09/2021, quando “diversos diálogos travados entre Domício e Lucinha através
de mensagens pelo aplicativo WhatsApp e encontros pessoais, providenciados com o auxílio da assessora da deputada, dão conta de que a Parlamentar atuou de forma aguerrida na defesa dos interesses econômicos da súcia que integra, em detrimento da sociedade.
Em diversas conversas, Dom afirmou textualmente que é interessante para a malta manter o sistema de “brecha da P5.
Esclarece o MP que a “brecha da P5” mencionada pelo miliciano faz alusão ao Sistema de Transporte Público Local (STPL) da área de
planejamento 5 – AP5, que corresponde ao transporte de vans nos bairros da Zona Oeste, maior fonte de recursos direta da associação criminosa paramilitar.
O MP pontua que diálogos travados entre Dom e a deputada demonstram que a parlamentar atuou junto ao Poder Executivo para manutenção da referida “brecha”, a pedido
do miliciano
No dia 30/11/2021, valendo-se do prestígio político de Lucinha, ela forneceu a assessora informações relativas à elucidação de crime de homicídio praticado contra o empresário Alberto César Romano Junior, que desapareceu em 24/09/2021 e cujo veículo e foi encontrado na Estrada Santa Efigênia, no bairro de Santa Cruz, área de dominação do bando.
Nos diálogos travados, “Dom relatou a natureza do relacionamento da vítima com os integrantes do “Bonde do Zinho, sugere que o crime tenha sido praticado pela quadrilha rival, “Bonde do Tandera”, afirma que o veículo foi abandonado em área de sua dominação
com o celular/GPS ligado para incriminar o “Bonde do Zinho, pretendendo que o fato seja apurado sob essa linha de investigação, e conta com o empenho da Parlamentar para que utilize-se de seu prestígio para que tais informações cheguem às autoridades incumbidas da persecução.
e: “
Dom mencionou o desejo de que seja realizada operação policial contra o grupo rival, pede à assessora que solicite à Lucinha para falar “com o presidente” (sic) da ALERJ), na intenção deste intervir sobre uma operação policial que estaria sendo postergada por “Doutor Amin [Delegado de Polícia Civil Marcos Amin, que foi titular da DCOD – Delegacia de Combate as Drogas da PCERJ].
Não satisfeito, se coloca à disposição para “explicar” para “Marquinhos” e para o Desembargador, “tio do menino”, toda a situação.”
E, no dia 10/11/2021, outro integrante da milícia (que se supõe ser Zinho) encaminha mensagem para Dom relatando que um homem
(tratado na mensagem como “André”) teria levado “dinheiro alto” (sic) a várias delegacias da Polícia Civil do Rio de Janeiro, visando “comprar” uma “mega operação” (sic) – possivelmente referindo-se à incursão nos territórios dominados pela milícia ora investigada.
Aqui, mais uma vez, o nome da deputada é citado. Assim, pelo diálogo em destaque, o MP conclui que “Zinho” determinou a Dom que o fato fosse levado à Lucinha para que esta desse conhecimento a uma terceira pessoa, não identificada no trecho do diálogo, e adotasse providências contra a quadrilha rival, “Bonde do Tandera”.
O quarto episódio diz respeito a fato ocorrido em 06/11/2021, quando a deputada estadual foi acionada por Dom para atuar em favor de milicianos do “Bonde do Zinho que haviam sido detidos por forças policiais na posse de farto armamento e outros petrechos de
combate.
O quinto episódio transcorreu no período compreendido entre 18/11/2021 e 07/12/2021, quando diversos diálogos envolvendo as
Lucinha, assessora e Dom, além de outros integrantes da milícia, demonstram que as duas atuaram, a pedido da milícia, para interferir na remoção do Comando do 27º Batalhão de Polícia Militar (Santa Cruz).