Os PMs que formavam quadrilha no batalhão de Belford Roxo […]integravam um grupo de WhatsApp denominado “STR Alfa 39º BPM ALFA 39o BPM”, por meio do qual eram discutidos assuntos relacionados ao setor da unidade.
Neste mesmo grupo eram trocadas diversas mensagens em que os denunciados, sem qualquer pudor, falavam sobre esquemas de corrupção mantidos entre eles e sobre a incessante busca por novos “padrinhos”, ou seja, comerciantes que poderiam pagar valores aos
policiais militares em troca de uma maior segurança em seus comércios.
Um terceiro sargento, que estava de saída do batalhão, encaminhou o que, talvez, tenha sido a mensagem mais impactante obtida através da interceptação.
O agente enviou uma listagem sobre os estabelecimentos que pagavam propina para os policiais para ter segurança.
“Sexta Dia: Ferro velho – 20; Carroceria – 100; Sorveteria – 80; MT areia branca – 50; Edna – 70; Blindex – 100; Cobal – 4 kg carne; Loja de material – 50; Transporte BR – 100; Depósito Flávio fardos Zeta – 50; MT ponte envezada – 20; Sexta Noite: Mercado Andrade Araújo – 100; Céu azul – 100; Loja conveniência – 50; Lobinho – 50; Ricardinho funerária – 100; Sábado Dia: Cadeira roda – 100; MT centro – 50; Farmácia MEP – 50; Farmácia marquinho – 50; Loja de material – 50; Posto BR – 50; Depósito fardo Posto Shell Dutra – 100; Sábado Noite: Berg – 80; Farmácia Berg – 100; MT Berg – 40; Mercedes – 50; Gato – 100; Kombis – 120; MT centro – 50; Doce – 70; MT Brás – 50; MT joal – 50; Inácio – 100; Céu azul – 100; Milícia – 100; Loja conveniência – 50; Lobinho – 50; Domingo Noite: Forró Carlos – 100; Céu azul – 100; MT forró – 50; Resenha bar – 200; Pizzaria Maria – 50; Loja conveniência – 50 Lobinho – 50.”
Os PMs falavam de valores também. Um deles disse que “ontem entrou 580, mas ficou faltando 300 (aquele completo do Bergs,
Kombi, Chiquinho e MT Centro)”, confirmando, portanto, o recebimento de propina mde alguns estabelecimentos achacados pela malta.
Em uma interceptação, um cabo enviou mensagens no grupo
pedindo que os integrantes deem “uma passada lá na loja de doces”, pois “o dono está reclamando que não estão passando”.
Em resposta, quatro colegas informaram que estavam comparecido ao local, deixando claro que o acordo celebrado com o comerciante estava sendo cumprido por parte dos agentes suspeitos.
Em outra gravação, o cabo informou no grupo que “o amigo da pensão pediu para todas as alas darem uma reforçada no patrulhamento devido ser um local de grande rotatividade de Mike e mico”.
Um colega então, acrescentou que o amigo da Farmácia da Joaquim da Costa pediu um apoio também.
Deixando claro que os comerciantes pagavam propina aos policiais em troca de segurança, um sargento diz que “vai ficar tudo mais caro
agora”.
Um PM pediu que os policiais que estão no turno neste e no próximo dia passassem no Posto Shell, e informa que sua viatura já passou e deixou o contato e que mais tarde retornariam lá.
O sargento lembrou que “tem aquele amigo ao lado do Bergs” e diz: “temos que ir nele”.
Um cabo sugeriu criarem grupo só com os padrinhos, nomeando alguns deles: “o cheirador amigo; o maluco da cadeira de rodas; o pessoal das Kombis”.
Porém, outro sargento não concordou com a sugestão e diz que a criação do grupo traria problemas para os denunciados, pois “tem padrinho que dava X, tem padrinho que dá Y”.
Uma nova demonstração de esquema de corrupção pelos denunciados, dessa vez consistente no pagamento de propina para a realização de escolta de caminhão.
Um PM disse que “o amigo do caminhão ligou perguntando se vai poder apoiar” e que “tem que ser o cara do dia”.
No dia seguinte, o terceiro sargento perguntou a um cabo se deu certo o caminhão e este confirma que sim, “100%, escolta firme”, confirmando que realizou a escolta do caminhão supracitado em troca de propina.
Os PMs costumavam, em mensagens privadas, trocar informações sobre diversas investidas criminosas.
Um PM enviou uma lista de estabelecimentos achacados (“Gato, Mercedes, MT, 3 Kombis e posto de gasolina”) com a referência de 3a Feira, deixando claro que era uma mensagem de lembrança para que ele e o seu comparsa comparecessem aos aludidos estabelecimentos a fim de obter o pagamento da propina semanal.
Um cabo prestou contas a um terceiro sargento que vai pegar daqui a pouco (a propina) de Ch. e que “o velho da MT (mototáxi) não respondeu”.
No mesmo dia, o cabo informou o valor obtido com as propinas cobradas: R$ 500,00 (quinhentos reais), dividido pelos 2, ficando cada um com R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais).
Ainda na mesma data, o terceiro sargento avisou que “tinha padrinho pra fazer amanhã” e informa que vai ver se um colega faz,
Dois dias depois, um PM destacou que um colega“pegou ontem”, especificando ainda os valores e estabelecimentos que fizeram o pagamento da propina: “100 forró”; “50 MT (mototáxi) forró”; “50 pizzaria”.
Um cabo enviou mensagem a um terceiro sargento disse que “a correria do caminhão já foi” e, em seguida, informa o valor da propina (“200”).
O colega rebate e perguntou se pergunta se foi molezinha e o cabo disse que não, que foi uma escolta igual trabalho normal e que o dono do caminhão ficou satisfeito, pois eles bateram direitinho.
Foi verificado que os denunciados cobravam propina inclusive da milícia no município de Belford Roxo no valor de R$ 100, valor este pago para que integrantes da milícia continuassem exercendo suas atividades criminosas sem serem incomodados pela PM.
Havia um intermediário entre os PMs e os comerciantes que pagavam as propinas aos agentes
Há menção a pagamento de propina de 80 e 100 reais semanais, respectivamente, por responsáveis por um mercado e uma farmácia.
Outro intermediário era responsável este é o responsável pelo pagamento da propina de um dos pontos de mototaxistas, sendo que um PM reclamou do atraso do recolhimento dos valores e o parceiro se justificou dizendo que o ponto faliu e que há poucos mototaxistas rodando.
Ademais, convém destacar que há menção a diversos pagamentos de mototaxistas à organização criminosa.