Em relatos ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT), trabalhadores que precisam prestar serviços em locais dominados por traficantes contam um pouco do terror que passaram.
Um deles disse que havia operações “do nada” e tinham que se esconder, tentando se abrigar, às vezes até na casa dos moradores, pois não havia como sair; que quando parava a operação policial, voltavam a trabalhar, pois tinham que finalizar os serviços.
No Complexo de Israel, chegaram no local, começaram os traficantes a mandar embora, os colégios fecharam, e tiveram que sair fora.
No conjunto CCPL em Benfica, estavam entregando fatura, começaram os tiros, se abrigaram, mas depois tiveram que retomar as atividades.
Um outro trabalhador disse que recebeu uma ligação de traficantes do Morro azul cobrando valores para que o estabelecimento não fosse assaltado, sendo ameaçado de levar um “tiro bem na cara”;
Uma funcionária de uma empresa disse que, além do roubo que sofreu, foi confundida pelos traficantes sendo classificada por eles de “espiã”.
Assim, os criminosos passaram a aplicar-lhe diversos tipos de agressões com pedaços de madeiras, chutes, tapas no rosto, xingamentos, além de terem rasgado as roupas dela.
Os traficantes confundiram o equipamento da empresa chamado EPD com uma “câmera escondida”, por tal razão fizeram a trabalhadora informar todas as senhas de equipamentos e celulares que portava.
Um funcionário chegou a ser interrogado por dez traficantes, e teve todo conteúdo do seu telefone revistado. Foi levado para um beco da favela e apesar de mostrar o crachá, identidade e estar uniformizado, foi obrigado a tirar o uniforme ficando apenas de cueca.
Um vigilante que trabalhava em uma comunidade foi comunicado que não era mais para utilizar o uniforme, pois parecia com o da Polícia Militar e poderiam ser “confundidos” na convivência com o tráfico”.
Disse que viveu momentos de pânico e terror, pois, não podia mais trabalhar armado, e tinha que conviver todos os plantões com os traficantes do local, recebendo ameaças, muitas vezes ficava trancado para ter segurança, pois os meliantes andavam fortemente armados no local”.
Salientou que “os traficantes mandavam no local, inclusive, como o autor fazia o plantão das 19h00 às 07h00, todos os dias, recebia comida do almoço para o jantar, pois o tráfico não permitia que subissem no local (P5) para entregar nada, muito menos quentinha”.
Em mais um dia de serviço, uma trabalhadora foi deixada na comunidade Nova Holanda, no complexo da Maré, para realizar as vendas. Durante o trabalho, chegaram moradores locais insatisfeitos com os serviços e informaram a ela e a equipe seriam levados ao “desenrolo” com os traficantes locais.