Quando recebeu a proposta de matar Marielle Franco de Edmílson Macalé, Ronnie Lessa fez uma exigência: que a arma usada não fosse um revólver.
Segundo Lessa, para a consecução do crime bastava que lhe fosse destinada uma pistola.
No entanto, para sua grata surpresa, Macalé, em meados de setembro de 2017, lhe apresentou uma HK MP5, submetralhadora alemã da predileção de Lessa, visto que ele operava com esse tipo de armamento no período em que fora lotado no Batalhão de Operações Especiais – BOPE da PMERJ.
Como possuía o registro de uma réplica da arma no calibre 22 e é perito em armaria, Ronnie Lessa sabia de todos os meandros necessários ao aprimoramento do armamento como, por exemplo, a aposição do supressor de ruído empregado na ação.
O executor do crime foi até um galpão abandonado e realizou alguns disparos com a arma para testá-la. Ele desferiu uma pequena rajada de cinco a seis tiros.
A arma foi buscada na comunidade de Rio das Pedras, em Jacarepaguá, território histórico das milícias.
Mas lhe foi feita uma exigência: o armamento teria que ser devolvido após a execução do crime.
Para Ronnie, a exigência de devolução seria porque a arma devia pertencer a alguma força de segurança pública.
O MP chegou a solicitar para as forças armadas e de segurança pública informações a cerca das submetralhadoras deste modelo que constavam em seus arsenais.
A submetralhadora não tinha brasão mas o número de série não foi suprimido.
A investigação, no entanto, não conseguiu identificar a arma.
Ronnie Lessa chegou a menosprezar a exigência de devolver a arma só que em uma terceira reunião com os mandantes do crime após a execução, mais uma vez se falou que ele teria que entregar o armamento.
Domingos Brazão disse que a arma deveria se recolocada no lugar, sem mencionar qual.
Três dias após o encontro, Ronnie e Macalé foram a Rio das Pedras conversar com os milicianos Fininho e Peixão.
Foi-lhes entregue a bolsa com a arma, carregadores. Um dos milicianos jogou as munições em um córrego.
O relatório da PF não fala sobre o destino final da arma.
Quase a totalidade dos estojos encontrados no local do crime faziam parte de munições cujo lote fora originalmente destinado a esta Polícia Federal, qual seja, o lote UZZ-18.
O esclarecimento sobre esses fatos ficou complicado em razão da morte de Macalé, o desassoreamento do córrego mencionado pelo réu-colaborador em Rio das Pedras em 2022; a capina do barranco do local onde Lessa testou a arma usada no crime.