MARIO HUGO MONKEN
Investigação feita há alguns anos revelou quem eram todos os integrantes do tráfico na comunidade do Buraco do Boi, em Nova Iguaçu, local onde sete pessoas teriam sido assassinadas há duas semanas, conforme denúncias recebidas pelo Fórum Grita Baixada.
Ao todo, são 42 bandidos, muitos já presos ou que abandonaram o crime. Alguns têm ligações com comunidades de Angra, Magé e da Zona Oeste do Rio. Há menção a propinas pagas a policiais, negociações sobre venda de armas e o pagamento de uma pensão a traficantes presos.
Veja a relação.
Confira:
Peixão – é apontado como o verdadeiro controlador do tráfico na comunidade do Buraco do Boi, ocupando posição hierárquica superior aos chamados “frentes”, que são por ele nomeados apenas para gerir o tráfico local. Seu nome – e sua autoridade hierárquica – são explicitados em vários dos diálogos dos demais membros do grupo, que também costumam ostentar símbolos alusivos ao peixe em suas redes sociais.
De acordo com as investigações, o tráfico do Buraco do Boi é historicamente controlado por Parada de Lucas – que é a principal base de Peixão -, havendo várias menções e registros de deslocamentos de membros do grupo criminoso entre as duas comunidades
Bigode – era o “gerente geral” da comunidade do Buraco do Boi, tendo exercido a função de “frente” do tráfico até ser preso, em 01/07/2019. Mesmo depois de preso, segue recebendo participação nos lucros do tráfico. Foi citado como líder por outros membros do grupo.
3K – foi apontado como um dos “frentes” do tráfico local, tendo assumido esse posto após a prisão de Bigode. Ostentava fotos portando fuzis em perfis de redes sociais. Tratava explicitamente de atividades relacionadas à distribuição de cargas de drogas e pagamentos, monitoramento da atividade policial e compra de armas. Era mencionado e tratado como líder por outros membros do grupo. É suspeito de ter ordenado o homicídio do motorista de aplicativo Jonahan Camilo Correa da Silva, sem a autorização do traficante Peixão, o que fez com que fosse destituído do posto de “Frente” no Buraco do Boi e retornasse para Parada de Lucas.
Michele -também é apontada como “Frente” do tráfico, tendo assumido a função após a destituição de 3K. Em vários diálogos, trata explicitamente de atividades relacionadas ao comando do tráfico de drogas, ao emprego de armas de fogo e ao monitoramento da atividade policial. Foi presa em 19/12/2019, em razão de mandados de prisão pendentes e na posse de um celular roubado (RO 040-07083/2019);
Aliciane – esposa de Bigode. Em um deseus diálogos interceptados, diálogos em trata de assuntos do interesse de seu marido, então preso, demonstrando terenvolvimento em suas atividades. Além disso, afirma explicitamente que, após a prisão de Bigode, ficou encarregada de receber a participação nos lucros do tráfico a que ele fazia jus;
Astronauta – era apontado como “ex-frente” do tráfico na comunidade, em razão de afirmações feitas por ele mesmo em diálogos interceptados, nos quais se vangloria de sua atuação na atividade, mas diz preferir uma vida normal. Conversou com Peixão para deixar o tráfico e entregou a ele seu fuzil e suas cargas . Afirmou manter boas relações com membros do tráfico e diz que Bigode não permitiria que sua casa na comunidade fosse invadida; Manteve diversos diálogos sobre os acontecimentos envolvendo os membros do grupo. Segundo as investigações, sua saída do tráfico se deu em janeiro de 2019;
Romarinho -também é apontado como “Frente” do tráfico, tendo assumido a função após a prisão de Michele. Possui histórico de prisões anteriores. Antes de assumir como Frente, trabalhava na segurança de Michele. Mantém diálogos
Rabetão – foi apontada como uma espécie de assistente pessoal da acusada Michele. Em vários diálogos interceptados, aparece como intermediária das comunicações entre Michele e outros bandidos. Manteve diálogos sobre o monitoramento de guarnições policiais
Mexicano – foi apontado como gerente das bocas de fumo. Em vários diálogos, trata explicitamente de atividades relacionadas à venda de entorpecentes, bem como sobre distribuição de cargas e prestação de contas
Juliana – Namorada de Mexicano, exercia a função de “vapor” em uma das bocas de fumo. Ostenta a imagem de um peixe segurando um fuzil em seu perfil do Facebook (em clara alusão ao traficante
Peixão ). Mantém diálogos explícitos sobre cargas de entorpecentes e sobre a rotina
dos plantões nas bocas de fumo
Nescau – irmão de Mexicano. Deixou de ser gerente para ser vapor. Manteve diálogo com DL e Seringuinha, no qual comenta sobre o fato de Seringuinha ter sido solto no “dia do PG” e afirma “três forte”, fazendo alusão ao Terceiro Comando Puro.
DL – Gerente do tráfico. Em uma escuta, tratou diretamente de uma carga de drogas com Michele
Wendel ou WD – um dos gerentes do tráfico e segurança do frente da comunidade. Manteve diálogos em que menciona o nome do acusado 3K tenta conseguir um ônibus com o objetivo de transportar moradores do Buraco do Boi para um baile funk em Parada de Lucas, que diz se tratar de “festa do patrão”
RD – “gerente dos radinhos”, além de “prestar favores pessoais” ao acusado 3K. Mantém diálogo em que trata explicitamente do “recrutamento de Deltas”
(radinhos) e do carregamento de baterias (fl. Mantém diálogos em que atua como batedor
em situações de deslocamento do acusado 3K e também trata da compra de um cordão a pedido dele , afirmando ao joalheiro que seria bom manter contato com 3K, pois assim também poderia a fazer jóias para “o cara lá em Lucas” (em aparente alusão ao traficante Peixão).
Mantém diálogo em que comenta detalhes sobre a substituição de 3K por Michele e indaga à sua interlocutora se “foram buscar os fuzil e a mochila” na casa dela (fl. 200).
Bê – Mantee diálogo com o acusado RD, no qual falam sobre questões relativas à logística dos radinhos. Foi o responsável por socorrer o acusado GB, após ele ter sido baleado em uma troca de tiros. Mantém diálogos sobre o monitoramento de viaturas e sobre uma moto roubada que seria vendida ao acusado WD, mas Michele viu e “pegou pra ela” . Negocia a compra de uma pistola.
Juninho ou Dançarino – ex-segurança das bocas de fumo. Foi preso por tráfico e porte
ilegal de arma em 17/08/2019. Na prisão, gerencia a distribuição dos “PGs”, com o auxílio de sua mãe. Em um dos diálogos interceptados, fala com o acusado WD, sobre como foi preso na boca, portando um “oitão e um rádio”.. Em diálogo com sua mãe, comentou sobre sua intenção de deixar o tráfico, Em outro diálogo, sua mãe relata a um interlocutor que Juninho estava mesmo na boca e trocou tiros com a polícia no momento em que foi preso. Além disso, os dois comentam que Juninho não iria receber nenhum auxílio (dinheiro e advogado), pois não estava “registrado” na facção.
GB – Segundo diversos diálogos interceptados (fls. 256/259), foi baleado em uma troca de tiros havida em 16/10/2019, ocasião em que estava em uma das bocas
Gêmeo – Segundo um dos diálogos interceptados (fl. 264), também foi baleado na troca de tiros havida em 16/10/2019, em que foram alvejados os acusados GB, Romarinho e Michele.
Carequinha -Ostenta foto de perfil em que faz o gesto característico da facção Terceiro Comando Puro.
Graziele – Exercia função de vapor. Manteve diálogos em que relatava preocupação com a presença de viaturas, mas recebe ordens superiores no sentido de que pode ir “pegar a droga” e “trabalhar
Fabrício – namorado de Graziele e apontado como olheiro do tráfico. Em uma postagem no Facebook, teve seu nome atribuído a uma foto em que três indivíduos (com rosto coberto) aparecem fazendo exibindo uma arma de fogo e gestos alusivos ao Terceiro Comando Puro;
Samurai – vapor. Manteve diálogo em que explicita a presença de três pistolas e uma granada em sua posse e dos demais integrantes da boca. No perfil de Facebook intitulado “Menor Paz (Samurai)”, atribuído ele nas investigações, ostenta a foto de uma pistola e de símbolos alusivos à facção Terceiro Comando Puro.
TH – exercia a função de “contenção” (segurança). Mantém diálogo do qual se infere explicitamente o porte de um revólver calibre .38 e um rádio transmissor, bem como sua sujeição à autoridade da acusada Michele.
Rato – vapor
Churrasquinho -. Foi preso em flagrante em 13/06/2019, pelos crimes de associação para o tráfico e posse de arma de fogo. Ostenta fotos no Facebook ao lado de outros membros do grupo criminoso, nas quais aparece portando armas de fogo de grosso calibre e fazendo gestos alusivos ao Terceiro Comando Puro.
Brendo – Ostentava símbolos alusivos ao Terceiro Comando Puro e ao traficante Peixão em suas redes sociais.
Neném – mãe de Juninho. É apontada como responsável por receber o “PG” (espécies de auxílio-reclusão e pensão por morte instituídas pela facção criminosa) de seu filho e também de outros presos oriundos da comunidade do Buraco do Boi e distribuí-lo às famílias dos detentos. Mantém diálogo em que combina o depoimento forjado de testemunhas de defesa em favor de seu filho. Comentou sobre homicídios praticados pelo tráfico e sobre o receio de serem
alvo de uma operação policial. Falou ainda de desavenças envolvendo os integrantes do grupo criminoso.
Tatiana – amiga íntima de Michele e trabalhava fornecendo quentinhas para o tráfico, além de permitir que sua casa fosse utilizada como depósito de armas e drogas e como esconderijo de integrantes do grupo criminoso . Em um dos diálogos interceptados, solicita o auxílio de Michele e 3k para que o marido de uma de suas filhas seja expulso da comunidade.
Xandi – é apontado como um dos mototaxistas associados ao grupo criminoso. Mantém vários diálogos em que recebe os pedidos e combina a entrega de drogas a compradores que o procuram por telefone.
Pit – mototaxista. Mantém seis diálogos em que recebe os pedidos e combina a entrega de drogas a compradores que o procuram por telefone
Gabriel – mototaxista. Também mantém vários diálogos em que recebe os pedidos e combina a entrega de drogas a compradores que o procuram por telefone.
Douglas – outro mototaxista envolvido com o tráfico.
Russo – mototaxista. Manteve diálogo com Henrique Osama”, no qual recebe um pedido e acerta a entrega de um “presente”um diálogo no qual recebe um pedido para “trazer um camaro” (cocaína), mas nega o pedido, pois afirma “estar duro. Um terceiro diálogo, também cifrado, em que se subentende tratar-se de um pedido de drogas (“tem uma menina que tá aqui em casa querendo uma viajem”), mas não ocorre a entrega, pois o interlocutor desiste logo em seguida. Ademais, recebe uma ligação em que uma mulher chamada Joice pede “sua arma” emprestada para sacrificar um cachorro, mas nega o pedido e recomenda à interlocutora que utilize veneno. Há comprovação de que exerce ocupação lícita como funcionário da Prefeitura de Nova Iguaçu.
Britão – mototaxista. Seu nome e telefone foram incluídos nas investigações em razão de figurar entre os contatos do celular cuja apreensão deu origem à operação policial (fl. Mantém quatro diálogos em que recebe os pedidos e combina a entrega de drogas acompradores que o procuram por telefone Mantém diálogos em que comenta o fato de estar ocorrendo uma operação policial na comunidade e os episódios envolvendo o sumiço de dinheiro do tráfico e a ocasião em que o acusado GB foi baleado.
HD – é apontado como líder do tráfico de drogas na comunidade Belém, em Angra dos Reis, que também é controlada pela facção Terceiro Comando Puro. Seu nome e telefone foram incluídos nas investigações em razão de conversas de whatsapp identificadas no celular apreendido que deu origem à operação policial. Possui 11 anotações criminais. Mantém diálogo em que trata do pagamento de três mil reais para subornar policiais, supostamente para soltar um mulher presa em flagrante.
Baleado – integrante do tráfico do Belém, em Angra. Seu nome e telefone foram incluídos nas investigações em razão de conversas de whatsapp identificadas no celular apreendido que deu origem operação policial. Possui 11 anotações criminais. Mantém diálogo em que relata o fato de estar preso, após ter sido recapturado e menciona vínculos com outros líderes do tráfico . Ao fundo de uma de suas conversas, ouve-se alguém dizer que “a janela do AK abriu”, o que, de acordo com as investigações, refere-se à janela de ejeção do fuzil AK-47. Mantém diálogo sobre operação policial realizada na comunidade Belém.
Dudu – outro traficante do Belém, exercendo a função de vapor. Manteve diálogo cifrado sobre prestação de contas da venda de drogas.
Baixinho ou Paraty – integra o tráfico na Costa Verde . Possui três mandados de prisão em aberto pelo delito de tráfico de drogas nas cidades de Angra dos Reis e Paraty, razão pela qual teria passado a realizar seus negócios e se esconder na Vila Aliança, no Rio de Janeiro. Mantém diálogo com um interlocutor sobre operações policiais e sobre possíveis contatos na comunidade do Amarelinho, no Rio de Mantém diálogos em que demonstra preocupação com as operações policiais em curso nas comunidades de Angra. Mantém diálogo cifrado em que, aparentemente, trata da venda de uma carga de drogas Mantém diálogo em que afirma já ter cumprido 12 anos de prisão e que, se for pego novamente pela polícia, sua vida “acabou” de novo . Mantém diálogos em que trata da compra de munição calibre .40 e calibre 556 (fl. 411). Mantém diálogo em que um interlocutor pede sua moto emprestada para levar uma carga até a boca;
Pingo – comparsa de André Parati – Mantémdiálogos em que denota claro envolvimento com práticas criminosas e constante preocupação com operações policiais Mantém diálogos em que explicita situações envolvendo a perda de uma carga de drogas e a compra e venda de munições de fuzil. Mantém diálogo em que menciona ter passado por uma operação policial no momento em que estava com “um milhão e oitocentos mil” dentro do carro.
Bruninho – traficante de Magé e Senador Camará. Manteve diálogo em que afirma estar portando quinze pistolas e dois fuzis. É irmão de Leonardo Pinto Salvador, vulgo Leo Tite, preso em 03/12/2018, suspeito de comandar o tráfico de drogas no município de Magé;
Osama -“: é apontado como um dos fornecedores de armas de fogo para a organização criminosa. Mantém um diálogo com o acusado 3K, então líder do tráfico de drogas do Buraco do Boi, no qual lhe oferece duas pistolas Glock, uma “9 e uma 40”, pelo valor de R$ 15 mil. Segundo as investigações, é motorista de Uber e viciado em cocaína.