Treze policiais militares estão sendo submetidos a conselho disciplinar que poderá decidir pela exclusão deles dos quadros da PMERJ
Alvos recentes de uma operação do MPRJ, os suspeitos integravam uma organização criminosa composta por policiais militares do Setor Alfa do 39o BPM (Belford Roxo)
As atividades ilícitas, embora especificadas em detalhes nos documentos, ocorreram pelo menos entre os anos de 2019 e 2020, visando claramente a obtenção de vantagens financeiras ilícitas por meio da extorsão de propina, além de frequentes desvios de materiais confiscados de criminosos, os quais não foram devidamente reportados às autoridades policiais competentes.
No contexto das interações ocorridas no grupo de WhatsApp pertencente ao setor menciona- do do Batalhão, observa-se que os militares em questão discutiam a corrupção de maneira trivial e rotineira,
referindo-se aos donos dos estabelecimentos extorquidos como “padrinhos”. Conforme revelado pelas men- sagens apresentadas na acusação, esses militares estavam constantemente em busca de novos “padrinhos”, isto é, procuravam por mais negócios para extorquir.
É importante destacar que a conduta dos policiais era comparável à de membros de uma milícia, exigindo pagamentos indevidos de comerciantes em troca de proteção, uma responsabilidade estatal que deveria ser garantida pelos agentes sem exigência de compensação financeira. Foi também verificado que co- branças eram impostas a mototaxistas e motoristas de Kombi para que pudessem operar sem restrições.
No que tange à milícia, evidências mostram, por meio da troca de mensagens e listas de vítimas de extorsão en- viadas, que os militares em questão exigiam pagamentos da própria milícia para que seus membros pudessem continuar suas atividades ilícitas sem interferências.
Um novo esquema de corrupção foi revelado nos documentos do processo, associado à recu- peração de automóveis subtraídos ilegalmente. Observou-se que membros da Polícia Militar colaboravam com empregados de companhias especializadas em seguros, na recuperação de veículos, recebendo pagamen-tos ilícitos como recompensa por resgatar carros roubados ou furtados, muitas vezes encontrados em áreas comunitárias.
Verificou-se que um dos PMs envolvidos conversou com um criminoso não identificado que estaria situado em alguma comunidade conflagrada de Belford Roxo.
Na conversa, o policial disse que bateu um “papo de cria” com o criminoso, tendo dito a ele o seguinte: “irmão pode rodar, pode visitar quem tu quiser, o bagulho é comigo, entendeu”.
Na mesma mensagem, o suspeito falou para um colega de farda que explicou ao criminoso a situação e falou ao mesmo o seguinte: “pô parceiro, os amigos (policiais) rodam aqui porque ficam atrás de um carrinho né”.
E, em seguida, o PM interceptado contou ao colega que o criminoso se comprometeu a “botar um carro por semana pra gente”.
Em resposta, o outro PM falou para aquele que foi grampeado. “ficou bom isso aí”, que “vai dar bom” e que o importante foi que você “saiu ileso de lá”, deixando claro que o colega esteve em um local perigoso, fazendo acordos, pessoalmente, com criminosos.
Nas interceptações, Adicionalmente, nas interceptações de comunicações identificou-se a prática contínua de peculato. Isso se evidenciou pelo confisco e subsequente omissão na entrega de armas de fogo, dispositivos móveis, drogas e componentes automotivos à delegacia, itens esses que eram ilegalmente desviados.