A facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP) firmou sua presença na capital federal Brasília. Em dezembro, 22 bandidos do grupo foram presos na cidade.
O bando atua de forma semelhante a quadrilha que age no Complexo de Israel mesclando a ideologia do tráfico com referências bíblicas ou religiosas, representando uma espécie de narcopentecostalismo composta por mártires fortemente armados e dispostos a matar ou morrer na defesa dos pontos de tráfico, além de utilizar símbolos bíblicos na sua representação, como, por exemplo, a bandeira de Israel e a Estrela de Davi.
O TCP exerce o domínio do tráfico de drogas na Vila Cauhy, região do Núcleo Bandeirante/DF e teria ramificações em Candagolândia, Estrutural, Cruzeiro, Guará, Taguatinga, Riacho Fundo e Valparaíso de Goiás.
Os traficantes ostentam grande quantidade de dinheiro, armas de fogo e objetos vinculados ao exercício do tráfico, bem como costumavam estabelecer rotina de guarda de pequenas porções de drogas espalhadas pelas vielas da Vila Cauhy, a fim de evitar as incursões realizadas pela Polícia Militar ou o sucesso de intervenções policiais em sede de flagrante delito.
Segundo derradeiro relatório policial, a Vila Cauhy é uma região localizada na porção sul do Núcleo Bandeirante/DF, que possui duas ruas principais, a Rua da Glória e a Rua da Obra de Maria, cujo desenho geográfico desfavorece a atuação policial, uma vez que o local é estreito, possibilitando a passagem de apenas um carro por vez, dificultando a aproximação para abordagem, porquanto não há como implementar o fator surpresa, o que viabiliza que os infratores dispensem objetos ilícitos ou, ainda, empreendam fuga, conforme demonstram as dinâmicas das ocorrências policiais no local. Nesse contexto, o tráfico de drogas é intenso no local e ocorre, inclusive, à luz do dia, bem como os traficantes locais não tem receio de se exibir em redes sociais comercializando e fazendo uso de substâncias entorpecentes, bem como expondo dinheiro e armas.
Ademais, é comum a divulgação de imagens nas quais fazem alusão aos símbolos da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP), quais sejam, o número 03C, a bandeira de Israel e a estrela de Davi, entre outras referências bíblicas.
Durante o período de monitoramento houve a apreensão de relevantes quantidades de maconha, ecstasy, cocaína e crack, que usualmente são ocultadas em hidrômetros, muros e pedras ao longo da rua (beco), bem como que foram documentadas em pelo menos 41 (quarenta e uma) ocorrências policiais.
A respeito do modo de agir dos suspeitos, foi identificado que a comercialização de entorpecentes no local se aproveita das características geográficas da região, de sorte que os traficantes escondem as drogas no local conhecido como ?beco da rua da glória?, na Vila Cauhy, de maneira que quando aparece algum usuário os traficantes ingressam no beco, retiram as drogas dos esconderijos (muros e relógios de energia), promovem a negociação e voltam a ocultar os entorpecentes para uma próxima venda, facilitando a descaracterização do tráfico na hipótese de eventual incursão policial, dinâmica que pode ser observada nos históricos das várias ocorrências registradas no local, escoradas, ainda, em inúmeros registros fotográficos.
Não bastasse o flagelo usual e caricato em qualquer região onde ocorre o tráfico, foi levantado que existem diversas pichações na região que sugerem ameaças aos residentes do local, tática que tem por finalidade ou objetivo intimidar a população no sentido de reprimir qualquer tentativa de colaboração ou denúncia às autoridades policiais.
Se observou, por exemplo, de imagem contendo as seguintes expressões, cuja literalidade não deixa espaço para dúvida de suas finalidades: ?informante safado/x9 vai morrer!?; ?segura a língua morador?; ?aqui o coro come?.
Contudo, mesmo diante desse cenário de terror e constantes ameaças, bem como possivelmente movidos pelo profundo incômodo que o tráfico traz para qualquer região onde ocorra de forma indiscriminada, alguns moradores conseguem romper a barreira do medo e promovem denúncias anônimas através dos canais oficiais, como, por exemplo, o número 197 da Polícia Civil, que já registrou diversas colaborações anônimas sobre o comércio proscrito de drogas no local. De outra banda, buscando compreender as autodenominações que esses grupos de criminosos criam, também é possível observar algumas pichações que remetem a um possível grupo criminoso, ou facção, autodenominada ? Comando Vermelho do Núcleo Bandeirante?, identificado pela sigla ?CVNB?, que aparentemente disputa território e mercado com o também autodenominado ?Terceiro Comando Puro?, identificado pela sigla ?TCP?