Uma quadrilha baseada em Porto Seguro, na Bahia, praticava estelionatos virtuais especialmente contra criminosos/traficantes de drogas e de armas.
O bando se apropriu de linhas telefônicas de traficantes de armas de fogo e drogas e, depois, integrantes da quadrilha, passando-se por esses, infiltraram-se em grupos de redes sociais de criminosos e continuaram a comercializar os produtos ilícitos, atuando, de fato, como intermediadores, sem que os reais compradores e vendedores soubessem disso, vez que acreditam estarem negociando diretamente com o vendedor/comprador.
Como na realidade eles não detinham as armas de fogo e as drogas, no mais das vezes, não as entregavam, recebendo apenas o pagamento inicial pelo enganado ou parte da mercadoria ilegal pelo vendedor igualmente ludibriado.
Depois de terem se apropriado da linha telefônica do traficante e se passando por ele, os criminosos a venda de drogas com um comprador e, utilizando-se de engenharia social, convenciam os vendedores a entregar parte da droga para verificação e os compradores a depositarem antecipadamente parte do pagamento, normalmente referente ao frete da mercadoria, logrando enganar e aplicar o golpe tanto nos compradores quanto nos vendedores dos materiais ilícitos.
Entre os alvos da organização criminosa estavam um traficante que usava o nome CPX Urso e um outro bandido do Rio, vulgo Gordão Palozo, os quais tiveram seus aplicativos de WhastApp clonados pelos denunciados.
Um dos membros da quadrillha alou com um ex- assaltante de banco, que atualmente se diz aplicador de golpes, informando-se sobre as lideranças do crime organizado no Rio de Janeiro, que provavelmente usaria para consecução da prática delituosa, de nome Urso, que age como frente do tráfico na Favela da Penha. Urso seria também o apelido de Doca, que é o chefão local.
O criminoso passou a utilizar a alcunha “Sempre Deus” o outro vulgo Complexo Urso que seriam nomes de grandes líderes criminosos, para conversar com outras pessoas, no intuito de mostrar credibilidade nas abordagens a possíveis vítimas dos golpes
Em um dos diálogos CPX Urso escreveu para Sempre Deus que estava acompanhando Gordão Palozo e enviou um print de uma imagem, onde o verdadeiro “Gordão” avisava que tinha uma pessoa se passando por ele, evidenciando que os denunciados conseguiram clonar o WhatsApp de “Gordão Palozo”.
E foi se passando por conhecidos traficantes e com uma vasta coleção de fotos e vídeos de drogas diversas, armas e armazéns de produção de grande quantidade de entorpecente, obtidas dos traficantes com quem mantiveram contato por meio de telefone, que os denunciados Nomee Nome, com o auxílio dos demais comparsas – cada um desempenhado seu papel – conseguiram enganar diversos criminosos e deles obter o depósito adiantado de quantias vultosas, geralmente recebidas a título de frete da droga por eles negociada por telefone e que nunca chegou ao comprador ludibriado.
Um deles encaminou vários aúdios com conteúdo de falas de suposto “traficante” , mencionando valores de drogas e modus operandi na entrega do produto, evidenciando que eles compartilhavam essas mensagens entre si para utilizarem-nas em outras conversas com os interlocutores em quem pretendiam aplicar os golpes, passando-se por traficantes
Apurou-se que, para além de enganar os criminosos, os denunciados, de fato, praticaram o tráfico de drogas, na medida em que, para obter o adiantamento de mais dinheiro dos seus interlocutores, eles realizaram, através de intermediação, a entrega de droga ao comprador, para que, com o recebimento de pequena parte do material entorpecente (por exemplo, 1 kg), o comprador passasse a confiar neles, conhecendo a qualidade da droga e fechando a negociação de muitos quilos do entorpecente, dos quais os denunciados receberiam o depósito adiantado referente, ao menos, ao frete de toda mercadoria ilícita.
Todas asonversas e tratativas de venda de drogas mostram que os denunciados, num curto espaço de tempo, aplicaram golpes em muitas pessoas, auferindo muito dinheiro ilicitamente. Mas nem sempre foram exitosos, por circunstâncias alheias às suas vontades, visto que algumas das vítimas descobriram o engodo antes de realizarem os depósitos do dinheiro.
(Nome), o que demonstra que os denunciados tiveram acesso às conversas de “Sempre” e “Pequeno”, provavelmente, através da clonagem do aplicativo WhatsApp de algum deles.
No dia 15/09/2023, às 16:26:02, Nome, se passando por traficante boliviano, iniciou uma negociação com um homem não identificado, passando-se por um traficante boliviano, porém, no dia 19/09/2023 às 20:17:02, o homem enviou um print alertando sobre um possível boliviano estar aplicando golpe “nos amigos” (ID (00)00000-0000, Página 12).
No dia 20/12/2023, por volta das 20h07min, NomeE Nomeconversaram sobre um possível golpe de venda de drogas que foi frustrado porque Nomese atrapalhou na negociação ao trocar de aparelho, o que fez a vítima desconfiar (Páginas 07/08 do ID (00)00000-0000).
Quando o golpe era exitoso, os criminosos conseguiram receber os depósitos, eles eram feitos geralmente nas contas bancárias que funcionavam como o núcleo de gerenciamento e controle financeiro do grupo criminoso, criando diversas chaves Pix em seus nomes para recebimento da vantagem indevida, a qual era imediatamente repassada por eles para as contas de Nomee Nomepouco depois de terem ingressado nas suas contas, sob as ordens dos chefes, dadas assim que recebiam a confirmação dos depósitos das quantias pelas vítimas ludibriadas.
Eles abriam contas bancárias em diferentes instituições, físicas e virtuais, para que os valores conseguidos nos golpes fossem depositados nessas contas e, posteriormente, transferidos para contas pessoais de Nomee Nome.
Em alguns casos, verificou-se que as contas foram abertas por esses denunciados em bancos como Bradesco, Banco do Brasil, Caixa, Santander, Nubank, C6, Stone e Mercado Pago, os quais sabiam como funcionavam o esquema, eis que conversavam diariamente com os investigados, mantendo-os informados sobre os valores e quando estes entravam nas respectivas contas, após o que realizavam as suas transferências, conforme determinação de Nomee Nomee indicação do banco a ser depositado, sendo a maioria das transações realizadas via PIX.
Praticamente todos os dias alguma quantia era depositada na conta desses três denunciados, que eram imediatamente instruídos pelo casal chefe da quadrilha a passarem os valores para as contas deles, recebendo cada um deles, uma porcentagem dos valores, como forma de pagamento por seus serviços, conforme mostrou alguns diálogos de WhatsApp.