A pesquisadora Viviane Costa, autora do livro Traficantes Evangélicos: quem são e a quem servem os novos bandidos de Deus, recém-lançado pela Thomas Nelson Brasil descreveu assim o criminoso Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, líder máximo do Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio.
“Álvaro Malaquias é um pastor ordenado numa igreja pentecostal em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e hoje faz parte de uma igreja pentecostal em Parada de Lucas, que é uma das favelas que compõem o Complexo de Israel. É um homem devoto, que tem uma prática constante de recorrer a Deus pedindo direcionamento para estratégias de guerra, proteção em casos de confronto, que recebe profecias de vitória e as torna públicas, que faz orações para que haja segurança nos espaços e que recebe de Deus direciona.
Além da prática de fazer orações no rádio, Peixão compartilha visões e revelações que recebe nas orações no monte ou em casa. Nessa prática religiosa, ele busca em Deus direção e sabedoria para solução dos conflitos locais para organização e administração da comunidade a partir de uma ética local com traços de uma identidade evangélica, em que existe, por exemplo, a proibição do crack, como fruto dessa experiência que ele vive e da compreensão desse Deus evangélico.
Peixão é alguém é alguém que se identifica como evangélico e estrutura as práticas, as dinâmicas, as estratégias, a ética, a estética, a partir dessa experiência religiosa com características de novos movimentos pentecostais. Ele afirma, por exemplo, que Deus o direcionou para livrar a Cidade Alta do Comando Vermelho destruindo as forças rivais caso fosse necessário. Quando uma experiência religiosa direciona alguém para a destruição de um inimigo, contra vida e a favor da morte, fica impossível associar essa mensagem com a figura de Cristo.
Viviane conta que iniciou sua pesquisa determinada a demonstrar que os “traficantes evangélicos” — como os que dominaram a região de Parada de Lucas e criaram ali um espaço conhecido como Complexo de Israel, comandado pelo pastor e traficante Álvaro Malaquias Santarosa, o Peixão — buscavam uma associação impossível do nome de Jesus Cristo com a violência.