Caiu no esquecimento uma chacina cometida há sete anos no interior da Favela do Rola, em Santa Cruz, quando quatro pessoas foram assassinadas em uma suposta briga entre o tráfico e a milícia.
Em 2018, a Justiça decidiu impronunciar dois acusados do crime que receberam alvarás de soltura.
E não houve mais movimentação do processo.
O caso ocorreu em março de 2017.
Foram executados a tiros Juliana de Carvalho Cândido, Kethelin Pereira da Penha, Andréia de Melo Almeida e o adolescente Breno de Mello Almeida Oliveira,
Os corpos foram encontrados na manhã do dia 09 de março de 2017, no interior do veículo Fiat/Palio, placa LBT-4149 que se encontrava abandonado na Avenida Cesário de Melo, altura do nº 10.053, em Paciência.
Uma jovem foi baleada no rosto mas sobreviveu porque se fingiu de morta e permaneceu junto aos demais corpos, conseguindo se jogar do carro em movimento, eis que o objetivo dos denunciados seria levá-lo a um lugar ermo e incendiá-lo.
O pai da vítima sobrevivente disse que dois homens entraram em sua residência e levaram a filha pelos cabelos para dentro do carro Palio vermelho onde já havia quatro pessoas (vítimas).
Os bandidos aproveitaram para roubar uma certa quantia em dinheiro que declarante tinha em cima do móvel da sala.
Ele tentou impedir que a filha fosse levada mas um dos criminosos apontou duas pistolas para a cabeça do declarante e da mãe e disseram: “você quer morrer, seu filho da puta, sua piranha, volta (sic) para casa agora”.
Dentro do carro já estavam as vítimas que seriam mortas, entre elas uma jovem que foi pega por engano.
O carro seguiu para a localidade chamada Fazendinha, distante aproximadamente 300 metros da residência do declarante e dispararam diversas rajadas de fuzil;
Quando cessou o barulho dos disparos de fuzil, tiros de pistolas foram ouvidos, e, ao que soube pela filha, primeiramente Juliana foi executada com tiros na cabeça, na sequência mataram Kethelin, a senhora e depois seu filho menor.
Por último atiraram na filha no rosto, que se fingiu de morta; Ela conseguiu se jogar do carro na altura do Casarão 3, onde foi socorrida por um morador da comunidade conhecida como Rola 2, que a levou para o Hospital Pedro II;
Um dos bandidos disse que a sobrevivente era X9 e que os X9 seriam mortos e queimados.
A moça contou ao declarante que teria sido estuprada por um bandido conhecido como Sem Janta;
Os asssassinos seriam Sem Janta (chefe), Natan e Dentinho (vapor e soldado) e mais um menor.
O pai da sobrevivente falou na época, ordem era para executarem o declarante ele, sua esposa, sua outra filha, sua esposa,sua outra filha e mais umas seis pessoas da localidade;
Soube que esses mesmos homens já teriam matado outras cinco pessoas, porém os corpos não foram localizados porque teriam sido enterrados no matagal” (…).
MOTIVOS PARA SOLTAR OS SUSPEITOS
O mesmo declarante (pai da sobrevivente) não foi localizado para ratificar em juízo as suas declarações firmadas em sede inquisitorial.
A vítima sobrevivente não foi localizada nos endereços disponíveis no processo, motivo pelo qual também não foi ouvida em juízo.
Um PM, testemunha arrolada pelo Ministério Público, em audiência de instrução e julgamento, disse que todas as informações colhidas pela sua guarnição foram repassadas para uma equipe da delegacia de homicídios que estava no hospital; que por determinação do comandante colocou uma escolta para a sobrevivente; que ela ficou quase uma semana internada; que conversou com ela e ela foi falando quem teria praticado o assassinato dessas pessoas e quem teria tentado matá-la; que através do aplicativo celular facebook ela foi identificando um por um.
Natan foi o mais fácil de ser identificado, visto que ele tinha um irmão que fazia parte do tráfico e a polícia possuía os dados qualificativos dele; que a sobrevivente também forneceu a qualificação do vulgo Dentinho, também foi identificado pelo facebook; que em determinada operação policial Natan foi preso com arma e droga e, na sede da 35ª DP, o depoente reportou para o delegado da DH as informações que obteve da sobrevivente.
Ela lhe informou que estava em casa e foi pega pelo Natan, que também pegou uma outra menina; que a senhora que foi morta tentou interceder pelo filho, que também foi morto; que, segundo a sobrevivente, eles atiraram nas vítimas e as colocaram no carro e elas foram levadas por uma pessoa da comunidade.
A sobrevivente disse que saltou do carro na altura da Cesário de Melo, onde foi socorrida por um veículo que passava; que ela informou que os crimes ocorreram em virtude de os criminosos terem acreditado que as vítimas estavam repassando informações do tráfico à milícia.
A prova obtida por ele, no entanto, não se confirmou em juízo.
Os réus se fizeram valer do direito constitucional de permanecerem em silêncio.