Veja o quem é quem na milícia que agia na comunidade Bateau Mouche, na Praça Seca, que foi alvo ontem de operação do Ministério Público Estadual.
A reportagem teve acesso a trechos de escuta que mostram conversas sobre pagamento de propinas a PMs e policiais civis, negociação de armas, encomenda de roubos de veículos, informações sobre operações policiais e uso do sistema da Polícia Civil para descobrir investigações sobre os milicianos.,
Negão – Exerceu função de liderança, até o final do ano de 2021.
Após o desligamento desse grupo criminoso, passou a fazer parte da “Milícia do Zinho”, que atua em outras localidades da Zona Oeste.
Negão foi identificado no início das investigações, porquanto, de acordo com um relatório formulado pela CSI/MPRJ (Coordenadoria de Segurança e Inteligência do Ministério Público do estado do Rio de Janeiro), ele teria sido alertado, no dia 09 de junho de 2021, por um policial militar lotado no BOPE, sobre uma incursão policial de agentes do batalhão especial na comunidade Bateau Mouche, o que fez com que o miliciano avisasse seus comparsas, determinando que se escondessem.
No período de 1 ano e 4 meses, Negão foi o responsável pela milícia da comunidade Bateau Mouche, envolvendo a prática de crimes de cobranças de “taxa de segurança” mediante o crime de extorsão.
Após esse período, Negão, ao saber que milicianos da área em que atuava estavam planejando sua morte.
Em uma escuta, ele disse que Evaristo estava tramando sua morte e que “Panda” deu o aval para isso acontecer.
A partir daí, passou a integrar a milícia do “Zinho.
Ele “aceitou o convite da rapaziada do “Ecko” e do “Zinho”” para administrar a localidade de Guaratiba.
Júnior – foi executado poucas semanas antes do oferecimento da Denúncia.
Tratava-se de líder da milícia, que dominava as comunidades do Bateau Mouche, Campinho, Chacrinha e Praça Seca/RJ. Tendo sucedido a Negão na liderança da milícia.
Ocupou a posição de liderança, pelo menos entre dezembro de 2021 até a data de sua morte, em setembro de 2023.
Registre-se terem sido obtidas fotografias de julho de 2022, por meio da quebra de dados da conta as quais são referentes a listas e planilhas relacionadas ao controle da cobrança de taxas realizada pela milícia.
Além de imagens diretamente ligadas aos irmãos Braga (“Carlinhos Três Pontes”, “Ecko” e “Zinho”). Mencionem-se, ainda, as fotografias de diversas armas, munições e materiais bélicos, produtos esses utilizados pelo grupo criminoso em suas “tarefas” rotineiras.
Leleo ou Panda –
era um dos líderes do grupo e responsável por ordenar execuções de indivíduos e distribuir cargos de gerência dentro da organização criminosa.
Nesse sentido, inclusive, os dados obtidos demonstram que Leleo “nomeou” Júnior como sucessor como Negão na “direção” da milícia do Bateau Mouche.
Leleo determinou a execução de Negão por meio de Júnior.
Seita ou Ceta – foram identificadas conversas dele em que há sinais da manutenção de estreita ligação com policiais militares, com o objetivo de intermediar a relação desses com os criminosos.
Há conversas dele com dois capitães, um coronel e um tenente.
Ele se intitulava amigo do 2L ou Panda.
Na quebra de dados de suas contas, também foram obtidas imagens relativas a armas de fogo, acessórios ou munições:
Federal ou Mano – irmão de Júnior. Era homem de confiança do líder, tendo sido determinada sua participação em importante reunião criminosa.
Seu irmão falou em um áudio que é na Baixada. Fala ainda que o “cara” não falou onde é, pois o “cara” é “mundial” (“possivelmente algum miliciano bastante conhecido e relatou ainda que virá 2 (dois) “carteiras” (possivelmente policiais) amigos do “cara” buscá-los e o pessoal no meio do caminho.
Os “carteiras” irão conduzi-los até o local de encontro.
Júnior ainda disse que os garotos ficarão lá (Baixada), fala que Telmo deve ir junto também
Júnior disse que Negão da 18 (PM) irá com eles e poderá levar um amigo (possivelmente policial).
Júnior disse que “ele” (possivelmente o miliciano da baixada) irá falar umas “paradas” (conversar) e explicou ainda que era para Federal ir também.
Negão 18 – policial militar tendo sido denunciado perante o juízo da Auditoria Militar.
Assim, as mensagens analisadas pela investigação demonstram que Federal também mantinha ligações com policiais, de forma a intermediar relação entre esses e o grupo miliciano. Também há elementos que indicam a sua amizade com Ceta
Merece destaque a conversa mantida entre Federa e Júnior sobre valores de armas de fogo, a serem adquiridas pelo grupo:
Telmo – integrante da milícia que atua nos bairros localizados na Zona Oeste e adjacências. Há indícios de sua atuação como auxiliar de Júnior.
Trata-se de pessoa de confiança dele e foi identificado como responsável por realizar e gerenciar as cobranças das taxas devidas ao grupo criminoso e, ainda, resolver questões decorrentes do pagamento de propinas a policiais militares.
Há conversas entre Telmo e Júnior em que citam um possível miliciano de vulgo “Semente.
Júnior pediu a Telmo avisar lá (provavelmente aos comparsas) para começarem cedo. Telmo perguntou se pode cadastrar na frente do “bt” (possivelmente cadastrar moradores que residam em frente a comunidade do Bateau Mouche), o que é prontamente autorizado por Júnior.
Além de merecer relevo as conversas relacionadas ao pagamento de propinas a policiais militares e civis.
Em uma delas, Telmo disse que irá pagar aquele “pessoal”, complementa que “eles” mandaram mensagem falando um “monte”.
Em outro áudio, Telmo disse para Júnior que irá fazer isso mesmo, irá pagar um pedaço de 1 (um) e um pedaço da outra, não irá sobrar nada.
Telmo complementoou que os “caras” estão perturbando demais, diz que já está com nojo desses “caras”.
Em seguida, Telmo falou que o “cara” da Patamo não lhe respondeu hoje, e o “cara” do GAT “entrou para dentro” de Telmo falando um monte de besteira.
O miliciano menciona que já falou com o GAT de amanhã.
Em mais uma escuta, Telmo falou que foi na Albano (rua), conforme pedido de Júnior, porém ninguém abriu a porta.
Telmo falou ainda que precisa ir durante o dia para recadastrar (possivelmente os moradores)”).
Na denúncia, há diversas conversas em que resta indicada a conduta de Telmo relacionada à cobrança de “taxas” a comerciantes da localidade, além de controle sobre comércio realizado, a exemplo de barracas que funcionaram no carnaval de 2022.
Em 21 de abril daquele ano, Júnior disse em áudio, que acabou de passar na Intendente (Rua Intendente Magalhães) e que as barracas estariam todas armadas.
Ele determinou que Telmo fosse até o local para cadastrar as barracas para o carnaval, pois já não teriam pegado (possivelmente dinheiro) o dia de ontem.
Júnior determinou que Telmo fosse com Paican, Branquinho e Já Morreu.
Pablo – cunhado de Júnior, também era seu homem de confiança e tinha por função principal, intermediar a venda de armas e munições para abastecer a milícia.
Em uma conversa, Júnior falou para Telmo que o cunhado vai vender a “peça” (possivelmente arma de fogo) hoje.
Júnior disse que já colocou as outras duas (possivelmente arma de fogo) para vender, comenta que Pablo teria falado que vende rápido as peças.
Júnior comentou ainda que colocou para vender a outra (peça) com 4 (quatro) carregadores e a pequena (peça) que o “Mika teria deixado ontem com ele.
Hélio – promovoa extorsões, mediante a cobrança das “taxas” para o grupo miliciano, além de levar a efeito negociação de veículos roubados / clonados.
Em conversa, ele ofereceu a Júnior um Jeep Renegade (provavelmente roubado) e este diz que paga “4” (quatro mil reais) pelo veículo.
Na oportunidade, perguntou a Júnior se tem alguma encomenda (algum modelo de veículo para ser roubado), e ele respondeu “208 grife” 2019/2020 (Peugeot), momento em que Hélio encaminhou o “pedido” ao roubador de veículos”.
Hélio também era responsável por movimentar valores e fazer pagamentos, seja aos comparsas, seja aos policiais militares que mantêm vínculo com o grupo miliciano. Além disso, há elementos que apontam que Hélio também negocia armamentos:
DG – exercIa a prática de extorsões mediante a cobrança de taxas em favor do grupo criminoso, além de ter a responsabilidade de intermediar a receptação de veículos roubados/clonados, já disponíveis ou sob “encomenda”, de acordo com as necessidades do grupo.
Russo – sua atuação era no fornecimento de veículos (objeto de crime) e de material bélico ao grupo criminoso. Inclusive a negociação envolve material apreendido pela polícia civil, o qual é desviado do local de acautelamento e Russo tinha acesso, por manter estreita relação com policiais civis, consoante elementos angariados pela investigação.
Em um aúdio, Russo fala ao miliciano Júnior que estava indo atrás de um carro modelo Mercedes e pergunta se ele irá pagar.
Júnior disse que paga e pergunta a “Russo se ele arruma 5 (cinco) caixas de “9” (calibre 9 milímetros). “
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Russo” enviou as fotos do veículo citado na conversa e diz que o “X” (pessoa que passa informações) está dando.
Júnior, após visualizar as imagens do veículo, disse que a Mercedes era velha e pede a “Russo” arrumar um veículo modelo Fiat Toro ou um Jeep”.
“No dia 27/01/2022, Júnior falou a Russo que “ele” (possivelmente algum miliciano) fica cobrando dele para ver as “paradas” que “Russo teria tratado.
Em outro áudio, Russo falou que pegou os 2 (dois) “bicos” “HK G3” (modelo de fuzil HK G3) que ele (algum miliciano) queria, mas que vendeu em Santa Cruz.
“Russo” disse que o “cara” (miliciano) fica só de “resenha” (enrolando), só prometendo e nada, por isso que “Russo vendeu os “bicos” (fuzis) em Santa Cruz/RJ.
Júnior falou que “ele” (miliciano) juntou o dinheiro para pagar pelos “bicos” que “Russo” teria tratado”.
Russo chegava a se vestir de policial civil, inclusive, com permanência no interior de Delegacias Policiais da Zona Oeste e acesso aos sistemas, consultas (por exemplo: pesquisas de placas de viaturas, de mandados de prisão pendentes, da existência de investigações em andamento em desfavor dos membros do grupo criminoso).
Bem como chegando a participar de diligências em viaturas oficiais e realizar a intermediação entre a milícia e servidores da polícia civil, com relevo para os lotados na 29ª DP, Madureira e na 33ª DP, Realengo.
“No dia 27/01/2022, Júnior enviou a Russo envia ” duas imagens captadas por câmeras de segurança. Nas imagens aparece uma viatura da 33º Delegacia Policial, localizada no bairro de Realengo.
Em áudio, “Russo falou a Júnior que irá “desenrolar” com ele (?) para saber se tem alguma investigação em andamento.
Júnior perguntou se tem algo acontecendo, pois eles (policiais) teriam tirado fotos do carro. Em áudio, “Russo” falou que irá embora às 18:30h de viatura, levará o comissário na Taquara, diz que irá encontrar com “Robinho para conversarem.
No mesmo dia, Russo enviou envia um áudio a Júnior dizendo que falou com “ele” (?) e que este teria dito que não foi ele quem designou e só teria ficado sabendo agora (possivelmente referindo-se a viatura das imagens acima).
“Russo falou que na terça-feira ele (?) fará uma reunião com o GIC (Grupo de Investigação Complementar) e estará presente para “trocar” ideias.
“Russo falou que seria sobre o telhado na calçada que representaria como construção irregular da milícia. “
Russo” complementou que teria denúncias sobre milicianos que estariam reunidos embaixo do telhado para contabilizar dinheiro.
Depois, Russo falou que não tem nada, nenhum inquérito policial envolvendo o nome do miliciano Júnior, pois “Russo” abriu o portal (possivelmente portal de segurança) e não constatou.
Ele disse que existia fotos que chegaram na 29ª DP e na 33ª DP sobre essa denúncia, diz que eles (possivelmente os policiais da viatura) foram olhar o local.
Júnior disse que o telhado é do lava jato que existe há 8 (oito) anos, diz ainda que no local não teria milícia.
Russo disse que telhado na calçada é proibido”.
Russo tinha responsabilidade no que diz respeito ao pagamento de vantagens indevidas a policiais civis.
Ele encaminhou mensagem a Júnior informando que a CORE está na rua desde cedo.
A mensagem seguinte, igualmente encaminhada, traz o seguinte teor: “Tem que combinar o dia de pagamento pq dia 30 é domingo queria saber se é hoje ou segunda e também não consigo contato”, certamente tratando do acerto da propina paga a policiais civis pela milícia”).
Mineiro Assaí -fazia o recolhimento dos valores pagos pelos comerciantes das localidades dominadas pelo grupo criminoso.
Em aúdio, ele perguntou como está o negócio dos 300 do miliciano Júnior, que informa que Mário não teria dado nada, pergunta se pode deixar na lanchonete”. “
Em outro áudio, Mineiro disse para Júnior que o “negócio” está na mão, o do Mário e dos meninos.
“Mineiro Assaí” fala que é 400 (quatrocentos) e pergunta se pode deixar na lanchonete e Júnior disse que sim”).
Semente – trata de responsável pelo recolhimento dos valores pagos pelos comerciantes, prestadores de serviço e moradores a título de “taxas”, bem como por efetuar o pagamento de propina a policiais.
Em áudio, ele falou que não tem como aumentar o valor lá (?) porque é pequeno, diz ainda que já está pagando o “14º” (14º Batalhão da Polícia Militar), “civil” (Polícia Civil), “P2” (Policiamento Reservado) e já teve um “desenrolado” sobre os esses valores pagos.
Semente disse ainda lá (?) dava um valor de “7” mil (sete mil reais) e estava tendo muito gasto”. “
Em áudio, Júnior que só veio “2,5” (provavelmente dois mil e quinhentos reais) e que o “bagulho” é “4” (provavelmente quatro mil reais).
Disse que já tinha conversado com “Semente para pegar os “5” (cinco mil), ficar com mil (mil reais) e mandar “4” (quatro mil reais) para ele.
Semente respondeu no áudio que é o que vem agora, e que o restante vai dia 20″).
Danúbia – companheira de Júnior e tinha atuação no recebimento dos valores arrecadados pelos outros comparsas, para posterior repasse para o seu companheiro.
Além disso, a denunciada, juntamente com seu companheiro, também recebia os valores das cobranças de taxas, por meio de pessoas jurídicas constituídas por eles, em típico esquema de lavagem de dinheiro
Russo ou Xuxa – estava preso na época da investigação.
Foram verificados diversos recibos de transferências bancárias semanais, nas quais ele era beneficiário.
Rodrigo – oficial de cartório da Polícia Civil do Rio de Janeiro, lotado na 35ª DP de Campo Grande (à época dos fatos delineados na Denúncia).
Os indícios evidenciam que ele foi quem possibilitou o acesso irrestrito que o denunciado Russo tinha sobre as dependências, sistemas e demais atributos relacionados à Polícia Civil.
Nesse sentido, note-se que a pesquisa “sarque” que Russo fez a pedido de Júnior foi efetivada por meio do login do funcionário público.